segunda-feira, 6 de abril de 2009

POVOAMENTO DA BACIA DO RIO PIRANHAS

(Pintura de Eckhout, representando dança dos índios tarairiú)


Os mais antigos sinais de ocupação humana na Bacia do Rio Piranhas chegam a 10 ou 12 mil anos atrás, numa época em que provavelmente ainda existiam tigres dentes-de-sabre, mastodontes, paleolamas, preguiças e tatus gigantes. Os sítios arqueológicos da região comportam pinturas e inscrições rupestres pertencentes a três tradições distintas, chamadas pelos pesquisadores de Tradição Nordeste (com pinturas de cenas diversificadas), Tradição Agreste (com pinturas menos variadas) e Tradição das Itaquatiaras (com inscrições circulares e espiraladas feitas nas proximidades dos cursos de água)Na época da colonização, a Bacia do Piranhas era habitada por índios tarairiús em quase toda a sua extensão, e por potiguares, restritos à região do delta.Os índios tarairiús chamavam o rio Açu de Otschunog e o vale do Açu de Kuniangeia.Os colonizadores usaram, entre outros nomes, Rio dos Canibais, em referência ao costume dos índios de devorar parentes mortos e inimigos capturados em batalha.Os tarairiús formavam diversos grupos. Os cariris habitavam o sertão paraibano e os pegas, sucuru, canindé e jenipapo habitavam o território que viria a ser o Rio Grande do Norte. Ficaram conhecidos como janduí (nhandu-i: pequena ema), nome usado também para identificar um de seus chefes na época da colonização, o famoso Rei Janduí, também chamado de Drarug. Outros chefes tarairiús foram Cara-cara e Canindé.Viviam da caça, que incluía répteis, mamíferos e aves (inclusive, emas). Praticavam a pesca, sobretudo nas lagoas, como a de Bavatag (mais tarde chamada de Piató), onde os peixes eram abundantes. Faziam a coleta de frutos e de mel silvestre e, ainda, a agricultura, com cultivos de batata, milho, amendoim e mandioca. Eram grandes corredores e guerreiros ferozes, que amedrontavam os colonos.Os tarairiús foram exterminados durante a Guerra dos Bárbaros, que ocorreu na bacia do rio Piranhas entre os fins do Século XVII e início do Século XVIII. Esses índios se haviam unindo para enfrentar os colonos luso-brasileiros, que desciam com os rebanhos de gado e tomavam-lhes as terras. Resistiram por muito tempo, aproveitando-se do conhecimento que tinham do território, como também das armas de fogo fornecidas por franceses e holandeses, os quais disputavam com Portugal as riquezas do litoral brasileiro. Sem condições de resistir às diversas expedições organizadas pelo governo colonial, os tarairiús que não foram mortos acabaram aceitando o aldeamento (ou seja, viver conforme as normas trazidas pelos padres catequistas). Outros fugiram para regiões mais remotas do interior.Consolidou-se, então, a colonização, com o estabelecimento de várias fazendas fundadas por colonos que chegavam do alto Sertão, acompanhando o leito do rio Piranhas, ou que penetravam através do delta. Formou-se uma sociedade patriarcal católica, baseada na pecuária e na agricultura de brejos, várzeas e tabuleiros.

Texto: Benedito de Sousa Melo

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